"Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado." - Rubem Alves.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Experiência fora da campus

Fim do estágio extra-muro. Agora, depois de tudo que presenciamos nesses meses de trabalho no posto do Santa bárbara e nas duas semanas de odontopediatria da Vila da paz, iremos fazer nossa avaliação/análise do que vimos e aprendemos. Mais uma vez fomos desafiadas a sair de nossa zona de conforto e enfrentar a realidade que existe em um cenário diferente do qual estamos habituados, repleto de desafios, mas também de possibilidades. Saíamos de uma manhã corrida e cansativa de atendimento na universidade e nos deslocávamos para um bairro desconhecido e distante, do qual nunca ouvimos falar.
Conseguimos informações que nos levaram até lá, sem contar que fomos alertadas para o fato do bairro ser perigoso, que muitas execuções motivadas pelo tráfico de drogas acontecem naquela região,etc. Mas convenhamos que a questão da violência já se tornou tão generalizado, que não se pode mais afirmar que aqui em nossa cidade exista um local seguro, no qual as pessoas saiam de casa sem nenhum receio de sofrerem algum tipo de violência. Infelizmente é essa nossa realidade e precisamos encará-la. Mesmo assim, íamos de carro próprio, acompanhadas de todo receio que é de praxe, levando-se em consideração o histórico do bairro, mas encaramos esses primeiros obstáculos e seguimos em frente.
Ficamos bastante surpresas com a nova estrutura da Unidade Básica de Saúde e a equipe que nos recebeu (cirurgião-dentista e auxiliar de saúde bucal) foi acolhedora e solícita. Uma coisa que sentimos falta foi das ações feitas fora do consultório e ainda mais próxima da comunidade. Seria bastante interessante para nós ter tido contato com esse outro lado do CD inserido na ESF, que inclui as atividades coletivas e visitas domiciliares. O Dr. Antenor realizava as visitas às terças feiras, por isso não tivemos a oportunidade de acompanhá-lo em uma dessas ocasiões. Por conta disso, o atendimento dentro do consultório foi predominante e nos foi de grande valia.
Não tivemos nenhum problema durante o período que passamos no posto do bairro Santa Bárbara. Além de sermos sempre bem recebidas (pela equipe e pela população) conseguimos sair sãs e salvas todas as vezes. Quando fomos para o posto da Vila da Paz, tivemos uma mudança no nosso ritmo de trabalho. Os dois dias que fomos para lá foram bem mais puxados, mas sempre saíamos com a sensação de dever cumprido, e de fato foi.

A visão do dentista da ESF


Para conhecer uma pouco da visão do cirurgião-dentista inserido no Programa Estratégia Saúde da Família no que diz respeito à prestação de serviço odontológico nas Unidades Básicas de Saúde, fizemos algumas perguntas ao Dr. Antenor, dentista da UBS do bairro Santa Bárbara. Aproveitamos para saber a opinião dele a respeito da presença de alunos de graduação atuando nos postos de saúde em bairros de Teresina. Aqui estão as respostas:

1) Quanto tempo o senhor trabalha no Programa Estratégia Saúde da Família? Qual a sua análise sobre os anos de trabalho no programa?

Trabalho na ESF desde Junho/2002. Por 8 anos atuei no interior do estado e há 4 anos trabalho nesta Equipe 99 aqui em Teresina. Desde que haja condições de trabalho, o que nem sempre acontece, tem sido gratos anos de atividade profissional, pois me identifico bastante com o serviço.

2)  O senhor acha que a visão da população em relação à saúde bucal (no sentido de o que motiva a procura do serviço) mudou com a ESF?

Sim, a visão tem mudado em relação a saúde bucal, significativamente. 

3) Qual a sua opinião a respeito da presença de estudantes de graduação dentro dos postos de saúde acompanhando e atuando com os profissionais?

Acredito que essa experiência de estágio seja bastante válida; na verdade, defino como importante que o aluno de graduação tenha esse conhecimento prático da realidade do atendimento em saúde pública, em alguns aspectos bem diferentes do presenciado entre os muros da Universidade, observando que muitas vezes é possível fazer algo fora dos padrões ideais, sem entretanto  deixar de prestar um serviço de qualidade à população que dele carece. Por outro lado, para mim também tem sido interessante, pela troca de informações com o meio acadêmico. 




Aproveitamos para agradecer ao Dr. Antenor, não só pela gentileza em responder às perguntas, mas também pelo acolhimento, a paciência, a boa vontade de ensinar e por partilhar sua experiência profissional conosco. Obrigada!!

Nossa primeira pulpotomia na Vila da paz.

Como ficou combinado anteriormente, no dia 31/07/2014 fizemos nossa primeira pulpotomia, no dente 85 da menina Isabela. Sob a supervisão da professora Marcoeli, seguimos o protocolo de pulpotomia utilizando sulfato férrico, que é preconizado pela disciplina de Odontopediatria da Universidade Federal do Piauí. 

APÓS A ANESTESIA E ISOLAMENTO ABSOLUTO, ESTE ERA O ASPECTO INICIAL DA LESÃO DE CÁRIE. 


APÓS REMOÇÃO DE GRANDE PARTE DO TECIDO CARIADO DAS PAREDES CIRCUNDANTES, REMOVE-SE O TETO DA CÂMARA PULPAR. HOUVE EXPOSIÇÃO PULPAR E A POLPA APRESENTAVA-SE COM ASPECTO MACROSCÓPICO DE VITALIDADE


FOI COLOCADO SOBRE A POLPA SULFATO FÉRRICO COM BOLINHA DE ALGODÃO POR 15 SEGUNDOS, LAVAGEM, SECAGEM, INSERÇÃO DE PASTA DE ÓXIDO DE ZINCO E EUGENOL E FORRAMENTO COM GUTTA-PERCHA.

APÓS A REMOÇÃO DE TODO TECIDO CARIADO REMANESCENTE DAS PAREDES CIRCUNDANTES, FOI FEITA UMA RESTAURAÇÃO DE RESINA COMPOSTA,

RADIOGRAFIA FINAL APÓS PULPOTOMIA E RESTAURAÇÃO DE RESINA.




A pulpotomia possui um custo-benefício satisfatório e quando bem indicada e aplicada, possibilita a manutenção da vitalidade pulpar e evita extrações desnecessárias, constituindo-se um procedimento viável para utilização em programas de saúde pública, em pacientes de todas as faixas etárias, em dentes decíduos ou permanentes e possui eficácia comprovada cientificamente. 
Esse procedimento é o último recurso terapêutico para evitar o tratamento endodôntico radical ou uma exodontia, com posterior tratamento reabilitador (em casos de dentes permanentes) que gera grande impacto econômico para os pacientes de baixa renda, por exemplo, atendidos nas Unidades Básicas de Saúde. Além disso, a perda de um molar decíduo precocemente pode acarretar distúrbios na oclusão que irá requerer um futuro tratamento ortodôntico. Apesar da criação do Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), é notório a grande demanda de procedimentos mais complexos, como o tratamento de canal, por exemplo, e que muitas vezes o sistema não é capaz de suprir as necessidades da população nesse âmbito. Portanto, enfatiza-se a necessidade de realizar os procedimentos mais conservadores possíveis, como a pulpotomia, no intuito de evitar ou postergar tratamentos mais invasivos e mais onerosos.


sábado, 2 de agosto de 2014

Ondontopediatria na Vila da Paz.

No dia 24 de julho fomos à Vila da Paz em virtude das férias do Dr. Antenor no posto do Santa Bárbara. Lá tivemos uma experiência diferente da que vinhamos tendo até o momento. Atendemos, juntamente com outras duplas da nossa turma, somente crianças que haviam sido previamente marcadas. Foi uma longa tarde, bastante cansativa, porém produtiva.


 Uma dessas crianças foi a Isadora, uma menina de 5 anos bastante meiga e carismática. 

                                     
O caso dela nos chamou a atenção, já que a criança necessitava fazer algumas restaurações e uma terapia pulpar (pulpotomia) em um dente decíduo (85), que ficou agendada para a semana seguinte, sendo que esta seria nossa primeira pulpotomia. 

RADIOGRAFIA PERIAPICAL INICIAL DO DENTE 85: NOTA-SE LESÃO DE CÁRIE EXTENSA COM ENVOLVIMENTO PULPAR

Então, ficou combinado que  levaríamos o material necessário para realizarmos o procedimento.



Sobre o estágio na Unidade Básica de Saúde do bairro Santa Bárbara.

Durante estes meses que passamos indo ao posto de Saúde do bairro Santa Barbara conseguimos ter uma experiência que alcançou nossas expectativas. Agora podemos fazer uma avaliação dessa pequena vivência que tivemos no serviço de saúde público em nossa cidade. Percebemos que ainda está longe de ser o ideal. Apesar de se ter uma boa estrutura, com um consultório de bom tamanho, bem iluminado e uma equipe disposta a trabalhar, muitas vezes ainda há alguns obstáculos que necessitam ser superados no que diz respeito ao atendimento odontológico. Boa parte desses obstáculos são impostos pela própria população e pela localização da própria Unidade Básica. Em conversa com Dr. Antenor, ele nos relatou que devido à mudança de local do posto do bairro Santa Bárbara, cuja demanda por atendimento é muito maior que na atual localização, situada no Árvores Verdes, muitos moradores deixaram de procurar atendimento, por conta da distância que dificulta o acesso daquela população. Afora isso, alguns pacientes, mesmo morando no Árvores Verdes, não retornam para continuar o tratamento, apesar de estarem com consultas agendadas. Esse cenário demonstra que muitas vezes as pessoas só procuram o dentista quando apresentam algum desconforto (dor, na maioria dos casos). Essa é uma mentalidade que deveria ser modificada. Mais ações de promoção de saúde deveriam ser postas em prática. Nos surpreendemos, pois pelo muito que já ouvirmos falar a respeito da dificuldade de se conseguir atendimento no serviço de saúde público, imaginamos que a dificuldade de se conseguir vaga fosse maior do que realmente é e que a desinformação da população geralmente é a barreira que a separa dos atendimentos oferecidos pela Unidade Básica de Saúde.


sábado, 26 de julho de 2014

Fichas de preenchimento e E-sus.


Durante o período que passamos no posto acompanhando o Dr. Antenor podemos entender um pouco da dinâmica de atendimento odontológico no posto durante a tarde. São ofertadas 8 vagas , sendo que destas 8, são agendados 5 pacientes para consultas de retorno e 3 pacientes para consultas de primeira vez. Os atendimentos são feitos 4 dias na semana no consultório odontológico do posto e 1 dia da semana é dedicado às visitas a comunidade ou a escolas. Aprendemos também com o Dr. Antenor sobre outra parte do trabalho de um cirurgião dentista na Estratégia Saúde da Família: cuidar da parte burocrática. No final do atendimento é feito o preenchimento da ficha do E-SUS. 

O e-SUS Atenção Básica (AB) é o novo sistema da AB que substitui o SIAB. Para atender aos diversos cenários de informatização e conectividade nos serviços de saúde, oferece dois sistemas de software que podem operar desde uma UBS sem computador, com o sistema com Coleta de Dados Simplificada (CDS) a partir do uso de fichas até UBS com computador nos consultórios e salas de atendimento usando o sistema com Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC)”. (Ministério da Saúde).

O Ministério da Saúde através do Departamento de Atenção Básica (DAB)/Secretaria de Atenção à Saúde promoveu a reestruturação do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB). O novo Sistema de Informação em Saúde da Atenção Básica (SISAB) moderniza a plataforma tecnológica, utilizando o software e­SUS AB. Este é composto pelo Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC­AB), pela Coleta de Dados Simplificada (CDS­AB) e seus instrumentos de coleta de dados, atendendo a diversos cenários de informatização e conectividade. O objetivo, segundo um manual disponibilizado pelo Ministério da Saúde é melhora na qualidade da informação em Saúde e o seu uso pelos gestores, profissionais de Saúde e cidadãos.

Tivemos acesso à essa nova ficha do e-SUS e a todas as demais fichas para o controle do atendimento e de pacientes, incluindo a Ficha Clínica Odontológica, o Comprovante de Atendimento Odontológico  e a ficha de Movimento Diário de Ambulatório.




Ficha de Atendimento Odontológico Individual (E-SUS).
Ficha do E-SUS preenchida após um dia de atendimento

Ficha de Movimento Diário de Ambulatório. A ASB anota os pacientes que serão atendidos no dia com seus respectivos números de cartão do SUS.
Ficha Clínica Odontológica. Cada paciente tem a sua ficha. Nela são escritos os procedimentos realizados, além de terem dados importantes sobre a história clínica do paciente.

Comprovante de Atendimento Odontológico. Cada paciente assina o comprovante após o atendimento.





Fonte: Portal do Departamento de Atenção Básica.

Para mais informações sobre o E-SUS acessar:
Blog somos a rede e estamos na rede.
Portal DAB, E-sus.



domingo, 1 de junho de 2014

Ideal x Real

Em nosso segundo dia de estágio, continuamos acompanhando o atendimento odontológico realizado pelo Dr. Antenor no consultório da Unidade Básica. À medida que os pacientes foram entrando e saindo, foi possível notar os aspectos conflitantes entre as condições ideais para executar determinado procedimento (restaurações de resina composta e exodontias, por exemplo) que aprendemos e realizamos dentro da universidade e o "arsenal" disponível para trabalho dentro de um consultório público. Na falta de materiais que possibilitem essas condições ideais, é preciso lançar mão de alternativas que gerem uma solução para o problema do paciente, sem agravar ainda mais sua condição, ou seja, saber utilizar aquilo que se encontra disponível no momento, da melhor maneira possível. E aprender a conviver com essas situações é desafiante e exige do profissional habilidades, conhecimentos e atitudes que superem os limites impostos pela clínica, pois a falta de materiais indispensáveis, como gorros, luvas, máscaras, anestésicos, equipamentos com problemas, etc torna o atendimento clínico inviável.